Diarizando...

Eu queria poder te desenhar.
Mas não posso, não agora.
Pude por um breve tempo, quando suas feições estavam frescas em minha cabeça, mas, porém, todavia, agora são apenas fiapos de lembranças.
Por que falo tanto de você agora?
Por que você?
O que há de errado comigo?
Além de tudo que você disse...
Minha mãe diz que escrever muito não é saudável, mas e o meu controle, onde deixei?
Escrever, para mim, é involuntário e viciante. Criar histórias então...
Sou locutora direta, e quero trazer para o meu leitor com clareza, tudo o que vejo.
Em detalhes, tocar a alma a fundo.
Pode ver? Quem dera...
Acho que imagino demais...
Será que consigo ser mais racional? Já sentiu isso também?
Não sei... Enquanto vejo a luz alaranjada cobrir o negrume que a sala estava e a televisão chiar a voz do Silvio Santos pela casa toda, só penso em escrever. E com palavras bonitas!
Ele diz que sou sínica, porque tento ser legal... Ou será pelos meus breves momentos de lucidez?
Será que fui sínica por tanto tempo que nem percebo mais? Ou tentei ser legal demais e acabei me tornando sínica?
Ele com certeza ficaria com a primeira opção.
A buzina do entregador me fez perder o fio da miada... Voltemos.
Machado de Assis dizia que romanesco não era biográfico. A realidade seria biográfica?
Mas... a realidade é romanesca. As pessoas que fazem de tudo pra não enxergar todo esse romance... Ué. Lá vou eu tentar trazer magia pra vida desse povo... Será que consigo?
Não vou viver de magia pra sempre... Tento não me sentir culpada, talvez um pouco frustrada por isso.
Queria poder dizer que te vi passar hoje. Seria mais romanesco ou biográfico.
Não lembro como você anda, lembro apenas de seu cabelo, de sua altura, e um pouco do seu rosto. Acho que o resto se apagou, pelo pouco tempo que esteve quente.
Você estaria passando, e imaginar todos os detalhes não seria tão difícil como é agora.
Cansei.
Boa noite... Damian.

Alex Turner é meramente ilustrativo