terça-feira, 12 de outubro de 2010

Acqua

Criei esse texto especialmente para a edição da semana do projeto bloínques. Achei que seria um modo construtivo e divertido de exercitar a escrita. O intuíto é criar um conto, a partir da imagem abaixo. Espero que gostem :3

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Submersa sobre as bolhas de sabão da banheira, eu prometi a mim mesma, que de agora em diante só resolveria meus problemas debaixo d’água.
Meus problemas não eram nem limpos nem leves o suficiente para se dissolver com água quente, porém, parecia que tudo embaixo dela se tornava menos denso. Incluindo meu corpo.
Me olhei no espelho naquela tarde chuvosa, depois de brigar mais uma vez com meu pai e colocar na pia tudo que eu havia comido durante três dias, o que não era muita coisa. Na verdade eu não comia decentemente fazia alguns meses, desde que minha mãe sumiu de casa para seguir um grupo de hippies vegetarianos que defendiam o desenvolvimento sustentável, quando na verdade todo esse projeto ambientalista era um meio de fugir dos problemas mal resolvidos de suas vidas. O que de fato foi o que minha mãe fez. Esperta ela.
Toc, toc, toc.
- Posso entrar? – Pela fresa da porta pude distinguir os olhos verde água de Tom, cintilavam na luz bruxuleante que vazava pela janela do banheiro. Todo o cômodo estava escuro, e ele adentrou-o tomando o máximo de cuidado para não escorregar no assoalho molhando. O tênis dele fazia um barulho engraçado.
- Senta aqui. – balancei um de meus pés calçados de all star, apoiados na beira da banheira, indicando aonde ele deveria sentar.
Ficamos um tempo encarando a parte de nossos rostos que estava iluminada pela luz da janela. O que eu mais gostava em Thomas, era o fato de que não era necessário para ele conversar, bastava apenas ficar junto.
- Eu acho... – disse cruzando os braços sob meu peito na água morna – Que vou me emancipar. O que você acha?
- Eu acho... – ele pausou, e isso foi suficiente para que eu deduzisse que iria começar mais um de seus sermões. “Eu era nova demais pra morar sozinha” “Pelo menos em casa você tem comida e onde dormir.” “Falta apenas dois anos para você se formar, e se mudar pra algum alojamento de faculdade, por isso tem que se dedicar aos estudos”, mas ele continuou pensativo, encarando-me e deixando-se flutuar em um mar idéias que giravam em sua mente, a fim de uma conclusão – Que tem um lugar sobrando em meu apartamento. Você pode ficar lá por algum tempo... Se você... – mas ele não terminou. Não porque não o quisesse, mas porque pulei sobre as bolhas de espuma e o abracei, em um abraço quente e molhado.
Na rua, a chuva ainda caía e o único som no ambiente era o cantar de pneus na avenida molhada e movimentada.
A água não limpou totalmente meus fantasmas internos, mas eu sabia, que de uma forma ou de outra inconscientemente ela estaria presente na solução deles.

3 comentários:

  1. Muuuito bom o texto!
    Vou ser bem assídua aqui, pelo jeito.

    Aah, sobre o teu post anterior..
    eu AMEI *-*

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  2. ADOREI O TEXTO. Boa sorte, espero que você seja um dos ganhadores do projeto. Mas com um texto desse, não precisa de sorte rs

    Parabéns.

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