Eterno Flerte

Olha-me, outra vez. Olha-me com esses teus olhos cansados, que de cansado tu não tens nada.
Sorri. O riso da volúpia escorre pelos seus caninos brancos. Sorri, e faz do seu sorriso a forma de armar o bote.
Escreva pra mim. Suas palavras tão doces, tão...Mentirosas, mas tão estrategicamente elaboradas me seduzem, me deixam enganar. É a única parte de ti que tenho por inteira.
Esvais-se por entre minhas pernas, foge com o nascer do sol. Em pensamentos, é claro. Contato físico é completamente inconcebível. Ironicamente, em nosso caso.
Machuca-me, me deixe com ciúmes, me faça morder-me de raiva e de vontade de fazer o dobro. É nossa batalha interna, eterna.
Procura-me. Sua maldita falta de vergonha, seu despretensioso jeito de voltar, cara de cachorro sem dono, falando sobre o tempo, pedindo pra me ver. Quando todas batem a porta na tua cara, eu te consolo esfregando tudo na tua cara. Tu tens colo, e eu vingança. E o jogo se inverte.
Quando sairemos da clandestinidade? Ninguém sabe. É às escuras, que nós mostramos quem somos.
Eu mostro, pelo menos.
Se tu mostras, eu não sei. Mas que eu gosto, de uma pequena parte, por um pequeno tempo, eu gosto. Gosto do que vejo, por mais que negue, faça bico, xingue, franza o nariz.
Sei que um dia vou cansar. Sei que isso pode não acabar na cama, ou em pizza, ou como bons amigos. Sei que pode acabar em tragédia, na delegacia, na beira da sarjeta, no inferno. O capeta que se cuide.
E sabe o que eu mais gosto em ti?
Porque você é igual a mim. Por dentro, por trás de toda a minha superficialidade recatada, simétrica e correta. Sou totalmente despolarizada, descontrolada e até certo ponto perversa.
Maldito seja o meu bom senso.