segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mariazinha Pingo D’ água

* Essa resenha contém spoilers do livro Urupês, de Monteiro Lobato.


“A colcha de retalhos” é o melhor conto de Urupês. Olhe que digo isso correndo o risco de morder a língua, já que nem sequer terminei de ler o livro inteiro (preguiça falta de tempo e afins).

A coletânea de Monteiro Lobato (Sim, o mesmo do Sítio do Pica Pau Amarelo *-*) reúne pequenos contos, com menos de 20 linhas (pelo menos os que eu cheguei a ler), embora não interfira em nada no decorrer de histórias muito curiosas e divertidas. Ao contrário, Lobatinho usando pequenos parágrafos consegue traçar perfeitamente os biótipos daquela época, criando em nossa mente paisagens perfeitas da vida do caboclo. A mistura de linguajar culto do narrador com as gírias regionalistas dos personagens tornam-se um empecilho irrelevante.

A obra pré-modernista reúne 14 contos e embora o mais famosos seja a história do Jeca Tatu (Urupês) o que mais me chamou atenção foi “A colcha de Retalhos”.
Maria, vulgo Pingo, é talvez um dos melhores exemplos de “santinha do pau oco”. A sua suposta timidez descrita no início do conto, é tamanha que não lhe oferecem nem ao menos um diálogo. O que fica subentendido no conto, é que toda essa timidez de anos de convívio no interior, sem nenhum contato urbano ocasionou a fuga a qualquer custo daquela realidade. Inconformada com a miséria, a menina muito por imprudência, pouco por inocência, aceitou a primeira proposta que lhe foi oferecida por mais desonrosa que tenha sido para família. Aliás, é essa fuga com um vizinho para cidade, que coloca a baixo o lar da família, mata a mãe, desacredita o pai e destrói o coração da avó. Senhora esta, que chefiava a casa e que via em Pingo o único motivo da existência. Adorava tanto a neta, que tecia uma colcha de retalhos dos vestidos que pingo usava e dispensava, decorando cada passagem da garota. Um presente de noivado, que nunca chegou a lhe dar.

Eis aqui, a passagem mais comovente do conto:

“Quadro imensamente triste, aquele fim de vida machucado pela mocidade louca!...
E ficamos ambos assim, imóveis, de olhos presos à colcha.
Ela por fim quebrou o silêncio.
_ Ia ser o meu presente de noivado. Deus não quis. Será agora a minha mortalha. Já pedi que me enterrassem com ela.
E guardou-a dobradinha na caixa, envolta num suspiro arrancado ao imo do coração.
Um mês depois morria. Vim a saber que lhe não cumpriam a ultima vontade.
Que importa ao mundo a vontade ultima duma pobre velhinha da roça?
Pieguices...”



Não achei a versão da Elba Ramalho, o que era minha intenção ):. Porém, Marisa... Te respeito.

4 comentários:

  1. Ah, mas spoiler de clássico, não conta. O único conto de Urupês que eu já li foi "Jeca Tatu", já li "A Negrinha", mas acho que não é desse livro. Vou correr atrás da "Colcha de Retalhos", gostei da resenha que vc fez.

    ResponderExcluir
  2. oi .. estou seguindo seu blog..
    aguardo retribuição =*
    blogdemillavida.blogspot.com

    ResponderExcluir
  3. Nunca li nada do Monteiro Lobato D: Me sinto sem cultura agora. O.O Ok, um dia eu consigo ler todos os livros do mundo. Vai demorar, mas eu consigo.

    Beijinhos, se cuida e obrigada pela visita.
    http://secretsofalittlegirl.blogspot.com/

    ResponderExcluir