sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Reencontro

Pelas ruas daquela cidade ao amanhecer, uma garota caminhava com seus pés descalços, marcados pelas entradas dos paralelepípedos. Os olhos castanhos algumas vezes interrompidos por mexas flutuantes no ar frio, focados no desconhecido.

Luíza não sabia muito bem o porque de ter saído da cama às 18 horas, vestido uma fantasia ridícula para uma réplica babaca de feriado norte-americano. Terminou o namoro no meio da festa, e sem dizer adeus à nenhum conhecido, rumou para o único lugar sossegado que conhecia em Santa Clara dos Montes.

À algumas semanas andava mais atordoada do que o normal, suas noites de sono interrompidas por um abraço gélido, quando acordava vez ou outra de um pesadelo com profundos olhos azuis.

Olhos de Mateus. Seu melhor amigo que misteriosamente desaparecera à exatos 2 anos atrás. Naquela mesma noite.

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No dia 31 de outubro de 2007, Mateus, à pedidos de uma Luíza chorosa ao telefone, pegou uma blusa surrada e saiu tempestade à dentro. Nunca mais foi visto.

Deixou a promessa de que nunca à abandonaria, e parecia ter levado, para onde quer que tenha se metido, toda a paz daquela garota. Desde daquele dia, na vida de Luíza, descasos ocorriam sucessivamente, tais como dominós desabando em fileira. Brigava mais do que o normal com o namorado, emagrecia demasiadamente e enfrentava o divorcio conflituoso dos pais. A esperança de que em uma das investigações encontrassem vestígios de que Mateus ainda estava vivo, foi minguando à medida que pistas se mostravam inexistentes.

Começou à enxergar no bosque, o único local que encontrava paz. Aprendeu à apreciar a beleza daqueles caminhos cercados com arvoredos, confundindo-se como labirintos. O amanhecer surgia por fendas, iluminando o breu com uma claridade nublada e indicando um grande toco que serviria como pouso.

Luíza se sentou, abraçando os braços congelados. Deixou-se perder em pensamentos confusos, uma presença quente afastando o frio e envolvendo-a de forma confortável como uma bolha.

_ Luíza... - sussurrou uma voz familiar, ecoando distante - Luíza... - a garota abriu os olhos.

Ires incrivelmente azuladas atraíram seu foco, que estendeu-se ao resto da face delicada do rapaz. Mateus estava diante dela, um sorriso sem dentes, levantando as maçãs açudas do rosto. Seria um belo sorriso, se o garoto não possuísse uma aparência tão cadavérica. Seus lábios secos, exibiam rachaduras à medida que o sorriso aumentava e dentes finos e amarelados apareciam. Ele estendeu os braços compridos de cotovelos e dedos ossudos, e Luíza, inebriada pela saudade, não pensou duas vezes em correr para aquele abraço.

Lágrimas escorreram pela camiseta puída do rapaz. Ele enrolou os membros em volta do pescoço da menina, acariciando seus cabelos loiros com as mãos. O corpo de Mateus exalava um odor muito doce e forte, semelhante ao de rosas depois de um dia de chuva. Sua pele parecia mais lisa do que se lembrava, gelada e elástica como de um réptil, os cachos negros de seus cabelos grudados na tez pálida. Luíza levantou os olhos vermelhos, encarando o sorriso invicto do rapaz.

_ Lembra do que eu prometi da ultima vez que nós falamos? - A voz, pelo que parecia não mudara em nada. Era rouca e bem baixa, como se lembrava. Pressionando os lábios para segurar o choro, Luíza gesticulou afirmativamente com a cabeça - Eu vim cumprir a promessa. - "Você voltou..." sussurrou a voz embargada da garota, escondendo o rosto no peito de Mateus, que respondeu enigmático - Sim. Mas não pra ficar. Quero levá-la comigo... - com as pontas dos dedos segurando o queixo fino de Luíza, Mateus levantou o olhar confuso da menina para sua face. Envolveu seu rosto com as mãos frias, e o puxando-o para perto do seu, colou seus lábios nos da garota.

Luíza abraçou a cintura do rapaz, as mãos grudadas em sua camisa. A energia de seu corpo esvaía-se, os braços tombaram e as mãos do rapaz a agarraram pelas axilas para mantê-la em pé. Sentia um asfixia começar, as vias respiratórias entupidas, um formigamento correndo por todo seu corpo. Suas pálpebras pesaram, e viu-se envolvida por uma total escuridão. Luíza nunca mais foi vista.
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No dia 31 de outubro de 2010 duas ossadas foram encontradas, lado à lado e com as mãos entrelaçadas, em um bosque de Santa Clara dos Montes. Estimava-se que se tratavam de 2 jovens, um garoto e uma garota, de aproximados 17 anos.


Happy Halloween atrasado Galëre! *-*

9 comentários:

  1. Olá!
    Nossa,adorei o texto,a história assim podemos dizer né?
    Você escreve muito bem, incrível *--*
    Adorei o blog, beijoos <!3

    http://aboutme-portal.blogspot.com

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  2. Nosssa²
    Que história incrível, tirando os pontos fictícios essa história é real?

    Um Bejio
    http://minhaformadeexpressao.blogspot.com/

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  3. Olá, adorei seu blog, muito fofo é moderno, mas vim te fazer um convite, da uma passada no meu blog é se gostar pode segui-lo é comenta-lo que logo farei o mesmo beijos...

    adorei a imagem do post-Born This Way

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  4. Nossa, fiquei lendo assim óh O_O O seu texto! Mesmo mesmo! Muito bom...o menino era o que, uma entidade? Mas gostei da história e do desaparecimento anterior... ficaria fajuto se os dois desaparecessem ao mesmo tempo. Beijo amada!
    (adorei eu ali do lado! "Gênios" Muuuito obrigada!)

    @biacentrismo

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  5. Cara, é muito dificil eu ler textões assim, mas a sua história me prendeu e você escreve muito bem!
    bjos!

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  6. haha valeu! psé pouca gente conhece a Mary, ou que ela seja uma das antigas desenhistas da disney. hehe

    muito boa a historia e tbm o gif abaixo hah :)
    http://largataazul.blogspot.com/ att

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  7. Uau! A história me prendeu de um jeito... O final foi de perder o fôlego! Você escreve muito bem! =O

    Respondendo à sua pergunta, eu estudo Artes Cênicas. Cinema é um projeto. Saí do jornalismo há pouco mais de um ano, e ainda estou [re]descobrindo a minha praia.



    Beijos,
    Andréia

    www.goandreia.blogspot.com - Go, Andréia!

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  8. SHOW! Adorei a história e o final foi sensacional. Cara, por que você não escreve um livro? haha, tem o dom!

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  9. .

    De tudo o que ficou o prazer que
    eles sentiram...
    Adorei o blog. Vou segui-lo. Si-
    ga o meu se for capaz...

    silvioafonso









    .

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