quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O "não-filme"


Atônica. Assim fiquei ao terminar Bubble Gum. Pra se lançar uma obra com tal peso aos 23 anos, Lolita Pille usou de uma mistura de genialidade, um pouco de tempo vago, loucura e experiência de vida singular. Segundo a própria, seus dois primeiros livros - Hell e Bubble Gum - são baseados no estilo de vida de jovens parisienses ricos, portanto, analisando suas origens burguesas, baseia-se quase que em seu próprio dia-a-dia. Voltemos ao roteiro. Roteiro, aliás, é a palavra chave da história, tendo tudo pra ser um derivado de Gossip Girl - e em certos pontos, talvez seja - mas tornando-se ao final algo muito mais profundo e revelador.

Iniciemos pelo bom e velho clichê: Menina pobre, notavelmente mais bonita do que todas as provincianas de sua pequena cidade no interior da França - ou pelo menos, é como Manon, a protagonista, se julga - com possibilidades restritas pelo baixo poder aquisitivo, suas esperanças, idem, aliadas a uma existência resumida em utopias: Paris, imponente e glamorosa, onde brilharia nas passarelas e posteriormente nas telas de cinema. Do outro lado do rolo há "o jovem milionário" Derek Delano, antagonista de uma riqueza que só não ultrapassa sua loucura e incrível capacidade de manipular qualquer pessoa à seu favor. Embora tenha uma vida com pessoas prontas para satisfazer seus inimagináveis (e até certo ponto, hilários) caprichos, o histórico cheio de mazelas (a morte dos pais e o suicídio da única namorada) e a falta de uma companhia menos interessada em seu dinheiro do que em sua amizade, são vistos na mente doentia do rapaz como motivos suficientemente fortes para desgraçar um ser inocente, corromper uma alma com sonhos e esperanças por pura diversão.

Associei a figura de Derek à três personagens: O primeiro deles, Chuck Bass do início dos livros e série Gossip Girl, mimado, egocêntrico, enxergando em algumas confusões atrapalhadas um quê de poesia inexistente na realidade. O segundo, Lord Henry Wotton (O Retrato de Dorian Gray) um burguês sagaz, desprovido de humanidade, dotado de um belo vocabulário e uma esperteza canalizada para fins perversos. Assim como Wotton, a paixão de Derek Delano é observar uma ideia incutida na mente de um ser inocente germinar, mesmo que esta resulte na destruição do mesmo. Há no próprio Gray características similares ao do jovem Derek, como uma versão mais sociopata do mesmo. Ambos possuem uma existência vazia, a qual misturada com a ociosidade e falta de perspectiva, ocasiona uma busca insaciável de entretenimento, mesmo que para alcançá-lo tenham de cometer atrocidades.

O grande potencial odiavel de Derek some em cada um de seus monólogos e diálogos divertidíssimos - o livro divide-se em dois fluxos de pensamento: A visão de Manon, e a dele - com pequenos discursos sádicos floreados com palavras bonitas e paralelamente a eles, devaneios nonsense. Nada mais previsível, vindo de alguém que passa o dia entupido de sintéticos. Tal como Henry Higgins, o "bondoso" Delano decide fazer de Manon uma estrela, ou pelo menos esta é a promessa que a motiva à acompanhá-lo por viagens em todo o mundo, onde trabalharia em catálogos, frequentaria as mesmas festas que celebridades hollywoodianas e poderia realizaria seu maior sonho: Tornar-se atriz. Embora algumas passagens do livro deixem bem claro o quanto Manon é alienada sobre 7ª arte. Mal descofia, no entanto, de uma brincadeira nefasta, a criação de um "não-roteiro" de um "não-filme" de qual a principal vítima seria ela, a "não-musa". Tudo perfeitamente maquiado pelo exagerado altruísmo de Derek.

Bubble Gum é acima de tudo surpreendente. De uma linguagem bonita e leve, malicioso sem apelar para vulgaridade e com reviravoltas realmente empolgantes, fazendo jus aos dizeres da contracapa: Lolita Pille conseguiu com esta obra, fugir de todos os clichês. Obviamente, não irei contar-lhes o final, pois fazê-lo seria deixar a história tão sem graça quanto chiclete mascado por muito tempo.
"Os não-filmes não deixavam nenhum vestígio atrás deles, eles eram voláteis como o éter,
implacáveis como a vida. A gente comprometia nosso destino neles, e não havia sequer uma
avant-première. Os não-filmes acabavam mal.
Este aqui recebeu de mim o título de Bubble gum, porque tudo nele parecia oco, rosa e
pegajoso: cenários, argumentos, emoções, até os próprios personagens, inclusive eu, eram
ocos, rosa e pegajosos, à beira de estourar, e aquilo que perseguiam, a sacrossanta redenção,
a sacrossanta celebridade, se tornava, durante as pseudofilmagens do não-filme,tão oco, rosa,
banal e breve como uma pequenina bola de chiclete, a qual acabaria inexoravelmente
explodindo na sua cara." (Derek Delano - Bubble Gum)
Violet Beauregarde aprovou esta resenha.

9 comentários:

  1. Tenho esse livro. Comprei a quatro anos, numa Bienal. Acredita que não terminei de lê-lo? Típico, quando se trata de uma pessoa com desvio de atenção feio eu. Achei ele engraçado, louco. Depois desse teu post, me animei em retomar a leitura.
    Bem, já te sigo a um tempinho. Gostei do Blog e vou passar sempre por aqui.
    Um super beijo!

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  2. Olá Beatriz

    Visitando blogs amigos, encontrei o seu e vim lhe visitar. Gostei e já estou te seguindo. Vou aguardar a sua visita e ficarei feliz se me seguir também.

    BJ000000000..................
    www.amigadamoda1.com

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  3. Sua sumiiiiiiida, custei a achar seu blog, Beatrizzzz, estava até com saudade de ler seus posts :(

    @littlepistols
    http://portifoliodasletras.blogspot.com/

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  4. Já tinha visto resenhas desse livro em outros blogs. Mas sinceramente, aqui na minha cidade não encontrei! Provavelmente na internet encontro... :~

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  5. Eu não conhecia esse livro, eu vou procurar pra ler ^^
    E eu adorei saber que meu blog foi um dos primeiros que voc~e começou visitar... saiba o que seu tbm foi um dos meus, e é um dos favoritos ♥-♥
    PS: adorei a segunda parte do seu meme!

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  6. Poxa, nunca tinha ouvida sobre esse livro, me interessei.
    Valeu a dica.

    Abraços!

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  7. Também nunca tinha ouvido falar sobre esse livro, não que eu me lembre, e adorei, tô com vontade de lê-lo, a capa de primeira me chama a atenção e a história, pelo que você comentou, parece ser das boas, dessas que eu gosto.
    Será mais um pra lista dos que eu preciso ter em mãos, e lá vou eu, naquela velha busca nos alfarrábios da vida.
    Beijo, Bea. :*

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  8. Não gosto muito desse estilo de livro =/. Mas ao menos terminei O retrato de Dorian Gray! E tbm não gostei muito não,rs.Bjos

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  9. Passando por alto, não seria um livro que eu compraria.Questão de gosto[acho].Mas, a minha sobrinha iria adorar (ela curte Gossip Girl).Sem dizer que, pode ser uma boa variar a minha leitura de vez em quando...
    Blog Abstrações | Tumblr pessoal

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