sábado, 7 de abril de 2012

Olhos Negros

Como de olhos fechados, o espaço vazio por onde caminhava era puro breu. Vez ou outra, um foco de luz aparecia, a atingia, e quando principiava segui-lo, a escuridão ciente de sua intenção, a engolia outra vez.
Sentou-se, abraçando os joelhos. A falta de referencial não lhe dava a certeza de um teto, paredes, tampouco de um chão. Poderia despencar de ponta-cabeça a qualquer momento. O coração pulsava alerta, embora isto a acalenta-se. Pelo menos não estava invicta de sentimentos.

Ao levantar a cabeça dos joelhos, pressentiu uma movimentação estranha. O escuro adiante começava a movimentar-se, esticando-se e delineando-se, como um tapete negro a se dobrar. O zumbido produzido pela estranha silhueta espalhava-se pela escuridão, visto a ausência de outro som para abafá-lo.

Impulsionada pelo instinto, começou a correr. Feixes de luz intensa surgiam, lhe atingiam em cheio no rosto, obrigando-a trocar constantemente de direção, tal qual um morcego fugindo dos primeiros raios de sol.

Com um passo em falso, começou a despencar na escuridão.

Os cabelos e a saia do vestido a flutuar, indicavam a velocidade com que um magnetismo a puxava para uma queda sem fim, na qual a garota, em sua insignificância, esticava os braços procurando inutilmente algo para segurar.

Seu coração titubeava cada vez mais rápido, um rufar de tambores em seu interior aumentando com a velocidade de seu cair, associados à garganta seca e os olhos agora marejados, previam a chegada de um fim.

Protegendo-se com os braços cruzados, pulsos fechados em forma de xis sob o rosto, ela cerrou as pálpebras, desejando que a morte fosse mais ágil do que o impacto com o chão.

Para sua surpresa, nem um nem outro foram rápidos o suficiente. A escuridão dissipou-se, uma imensidão luminosa tomando seu lugar, duas mãos puxando seu corpo pelos pulsos, retrocedendo o percurso de sua queda com velocidade superior.

No entanto, o ambiente voltava a escurecer, as mãos dos braços infinitos apertavam seus pulsos com mais intensidade e a puxavam mais rápido, a escuridão a seus pés. E acima, além dos braços, um pedacinho do céu se aproximava. Ela o atingiu.

Seus pulsos foram soltos, o tom enjoativo de azul celeste tomou conta de tudo, e, além dele, viu as costas de um rapaz. Cabelos à altura dos ombros cobriam sua cabeça, que virando-se para encará-la, exibiu um par de olhos tão negros quanto toda aquela escuridão.

Foi à última coisa que viu antes de acordar.

4 comentários:

  1. E tudo não passou de um sonho? E eu aqui, imaginando a menina no meio da escuridão sozinha...

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  2. Me lembrou Alice no País das maravilhas =), mas em uma versão mais dark,rs.
    Bjo

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  3. Que legaaaal, adorei! Essa é a Bia mostrando seus dotes contescos (?) USHDAUHDSIUHD Amei o final, os olhos negros e a escuridão, e aliás, tô pensando o que é pior: cair num buraco sem fim, no meio de um escuro horroroso, ou mergulhar nos olhos lindos e negros de alguém... SUHDIAHDSSUIDI
    Beijos.

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  4. Fiquei imaginando se você já escrevia contos antes aqui no blog. Esse me passou seu lado meio sombrio...
    Abstrações

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