quinta-feira, 16 de maio de 2013

A Rainha da Banheira

Ou: Uma resenha (cheia de spoilers) de A Indomável Sonhadora

Basta um bom título. Uma combinação bem feita de dois ou mais termos bonitos é o suficiente para aguçar minha curiosidade, me levar às telas do cinema, para frente da TV ou à página do site de download com um endereço fresco na memória.

Quando a lista dos indicados ao Oscar 2013 saiu nenhum dos integrantes dela, exceto "Os miseráveis", conseguiu chamar minha atenção. O prêmio havia à muito tempo perdido meu respeito, visto que 75% dos "escolhidos" dos últimos anos me saíram um grande poço de superestimação midiática e mimimi cult.

Contudo, sempre há uma ou outra exceção, sendo a última um longa de título encantador e cuja protagonista não só tinha apenas nove anos, como também mereceu uma indicação ao prêmio de melhor atriz.

Faz dois dias que assisti Indomável Sonhadora, e ainda não tenho um julgamento concreto. Contudo, se me pedissem para defini-lo usando um adjetivo, escolheria intrigante. Ao meu ver, terminar este filme sem a cabeça cheia de questionamentos e reflexões é praticamente impossível.

Na "Banheira", comunidade isolada de Louisiana, vivem a pequena Hushpuppy e seu pai. O apreço que a primeira tem por todo seu mundo - por mais absurdo e grotesco que este pareça para o nosso padrão de "civilização" - nos é mostrado logo no início, em uma sequência de cenas incrivelmente comovente, na qual ela leva até a orelha pequenos animais, afim de ouvir seus batimentos cardíacos.
Os moradores da Banheira, vivem com o mínimo de tecnologia possível, em condições quase rudimentares, mas mantem um sistema de subsistência, onde o pouco retirado daquele espaço de entulho e selva é compartilhado entre os membros da comunidade. Poderia considerá-los como "novos bons selvagens". Ademais, como a narração de Hushpuppy (a qual acompanha todo filme) cita "Na banheira, todos os dias são feriados", o que justifica tamanha resistência de seu pai em abandonar a ilha, mesmo com a ameaça de uma possível inundação.

A relação de pai e filha é outro aspecto complexo - e delicioso - de analisar. Em uma idade em que tudo a sua volta desperta curiosidade, inicio da construção de seu consciente, Hushpuppy tem como responsável um homem cheio de mágoas, uma forte tendência ao alcoolismo e conceitos pouco ortodoxos sobre educação. Como um animal, Wink cria a filha testando seus limites ao extremo, o que julga apropriado para torná-la imbatível diante de todos os desafios oferecidos por este mundo predador em que vivemos.

Porém, o comportamento de Hushpuppy não é abalado negativamente pela forma como é criada. Pelo contrário, para uma menina de apenas nove anos, mostra uma percepção da realidade a qual, embora misturada com suas fantasias, é precocemente madura e responsável, promovendo uma espécie de inversão de papeis: a criança acaba por educar/cuidar do adulto.
Como o roteiro, a fotografia é extremamente primitiva, meio jornalística, sem grandes efeitos de iluminação, atribuindo, em conjunto com a narração não linear dos fatos feita por Hushpuppy, um quê de documentário a estória.

Indomável Sonhadora é um filme que exige atenção, uma pré-disposição para mergulhar em uma trama com pouco dinamismo, mas riquíssimo conteúdo, cuja mensagem central talvez seja de que todos, mesmo possuindo visões particulares do sentido da existência e principalmente, do que é ser feliz, desempenhamos um significativo papel nessa selvagem jornada chamada vida.

3 comentários:

  1. Li algumas coisas a respeito desse filme há algum tempo, apesar de ter me interessado em ver não fui atrás disso. Penso que com certeza é bem interessante.

    Thoughts-little-princess.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Eu nunca assisti. E nunca nem tinha ouvido falar. Mas gostei da ideia e descobri que meu irmao tem no pc, então assisto em breve.

    ResponderExcluir
  3. OMG! Preciso terminar de assistir esse filme. Tenho ele aqui, no computador. Muito bem lembrado, Beatriz!!! E eu adorei a protagonista (tão pequena e esperta!).
    »»» Emilie Escreve Twitter

    ResponderExcluir