segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ditadura da Felicidade

Baseado no best-steller de Elizabeth Wurtzel e protagonizado por uma de minhas atrizes favoritas - Christina Ricci – “Geração Prozac” superou minhas expectativas, ao esmiuçar detalhadamente a mente de uma pessoa contaminada pelo considerado mal do século, de origens confusas e consequências fatais para um indivíduo por ele afetado: a Depressão.

É impossível começar essa resenha sem mencionar a ditadura da felicidade na qual vejo minha geração mergulhada. As imposições cotidianas, decorrentes da excludente e criteriosa sociedade atual, nos obrigam a fugir desesperadamente não só da tristeza e da melancolia, como de qualquer outro sentimento profundo o suficiente para nos afastar de nossos objetivos. Usufruímos de todos os recursos terapêuticos ou medicinais para manter inabaláveis nossa produtividade e bom humor.

Não há como negar que, especificamente, a partir dos anos 80 – época em que se passa a trama – tornou-se exaustivo ser humano. Uma das maiores frustrações do homem moderno é justamente não poder sustentar initerruptamente esse equilíbrio e bem estar emocional, nem apresentar a eficiência dos robôs, pelos quais impotentemente se vê sendo substituído.

Lizzie tem, aparentemente, tudo do que precisa para ser feliz. Uma mãe dedicada (até demais), recursos financeiros e a capacidade singular de escrever, dom que lhe rende uma bolsa em jornalismo e a leva ao Santo-Graal do American Dream: Harvard. A jovem almeja tornar-se escritora, e é consciente de que não precisa necessariamente ir para faculdade para realizar esse sonho, abraçando a vida acadêmica mais para satisfazer as ambiciosas expectativas que a mãe tem para seu futuro.

A faculdade não só proporciona a Lizzie experiências restritas por sua exigente educação – sair com rapazes, ir a festas, ter a companhia de uma grande amiga – como apresenta para ela o sedutor mundo dos narcóticos e seus efeitos em sua produção literária. Afetada por um barato de esctasy, a garota escreve um artigo premiado sobre uma banda de rock em ascensão, sendo este o responsável por trazer a ela a oportunidade de sua vida: um contrato com a Rolling Stone.

Contudo, se por um lado Lizzie é abastada por esse privilegiado talento, por outro, sofre de um psicológico frágil, marcado por um profundo vazio emocional, o qual se supõe ser originado da ausência paterna e uma existência sobrecarregada pela missão de corrigir os erros da mãe. Gradativamente e depois rapidamente – como a própria personagem no filme descreve – Elizabeth, impulsionada pela súbita aparição do pai e pela pressão do trabalho, acaba engolida por uma forte crise de depressão.

É um filme de fotografia e enredo simples, sem grandes altos e baixos, podendo não apresentar o brilhantismo de megaproduções hollywoodianas. Porém, essas faltas são mais que compensadas com a forte presença da personagem de Ricce e a marcante atuação de Jessica Lange, que interpreta a mãe da protagonista, tão instável e problemática quanto ela.

Geração Prozac pode não comover a ponto de arrancar lágrimas, e creio que esta nem foi a intenção da equipe que o produziu. Entretanto, nenhuma outra estória me mostrou de forma tão concisa o processo de “infecção” e “recuperação” de uma pessoa depressiva, de como até as mentes mais geniais não estão invictas de serem perturbadas e de como fatos considerados triviais para uns, podem custar a felicidade de outros.

Terminei o filme valorizando ainda mais aquela sensação de serenidade mental, que pode não se equiparar à felicidade ideal, mas é o que me mantem em equilíbrio para lutar por meus objetivos e preservar as coisas que valorizo e amo.

11 comentários:

  1. Beatriz, que resenha foi essa? Estou embasbacada! To virando fã do seu blog, tenho que admitir.
    Nunca havia ouvido falar desse filme, sinceramente, mas você me deixou com uma vontade imensa de assisti-lo. Acho muito interessante esses aspectos da mente humana e fico meio triste por essa situação da sociedade atual, porque eu, particularmente, acho bem saudável mergulhar, às vezes, nas próprias tristezas e melancolias. Acho que desse modo a gente se permite conhecer a si mesmo e amadurecer.
    Beijoss

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  2. Parece uma boa recomendação. Acredito que filmes, os quais, abordam temas como esse, devem ser levados em consideração, porque estão além de uma simples história, podendo ser vistos como um "auxílio", uma forma de conhecer melhor este mal do século.

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  3. Gente, amei essa resenha ! Esse filme parece ser ótimo, vou baixar já. E como disse as meninas adoro filmes que abordam esse tipo de tema. Amei o seu blog. Seguindo já ! :D

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  4. Nossa você disse tudo! As pessoas estão condicionadas a felicidade e querem espantar a todo custo qualquer problema que possa lembrar tristeza, eu mesma sou assim. =/ Estou pensando agora se toda a felicidade é de verdade.
    Muuito tenso haahaha mas adorei mesmo, quero assistir o quanto antes.
    Passando para desejar um ótimo dia!
    Beijo grande.
    yarasousa.blogspot.com.br/

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  5. Nossa, me deu muita vontade de assistir esse filme, vou baixar para assistir nessas férias, a resenha ficou óooootima!

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  6. Nuss, fiquei doida pra ver. Quando a gente tá passando por um momento triste parece que cai como uma luva um tipo de filme assim.
    Eu não sei o que faço com a minha ansiedade, ultimamente :( acho que tá pra virar uma coisa pior, como uma depressão. Será que esse filme tem as respostas que eu quero? bj

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  7. Amei sua resenha!
    Nunca tinha assistido esse filme, embora já tinha ouvido falarem sobre ele. Vou procurar assistir, realmente deu vontade!

    Beijos
    m-demarcela.blogspot.com.br/

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  8. O que me lembrou? Sylvia Plath e sua Redoma de Vidro. Aliás, sempre ouvir falar desse filme e agora, com o seu parecer, decidi procurá-lo. Acabo de encontrá-lo no Youtube, completo e legendado.
    Gosto de como a criatividade se intensifica diante da infelicidade. O contrário da felicidade, provavelmente, é ser original.
    Abraços.

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  9. Uau! Não conhecia esse filme, mas fiquei com bastante vontade de assistir. Sei lá, geralmente os filmes não abordam temas assim. A questão é que sempre achamos que 'acabou', que é o fim e etc, mas dá para se recuperar.


    Beijos
    www.procurei-em-sonhos.com

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  10. Cara, suas resenhas são tão incríveis, que dá vontade de assistir/ler/ouvir o assunto na hora! Sensacional ;)

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  11. Verei o filme com certeza. O enredo me interessou muito, e a probabilidade de que eu me identifique com a protagonista é perigosamente grande. Vc disse que "nem as mentes mais geniais estão livres". Sim, na verdade acho que quanto mais potencial você tem, mas auto-pressão sofre. E a tal "ditadura da felicidade" não colabora. Pior ainda, não é nem ditar a felicidade, e sim um tipo específico dela. Porque não é exatamente qualquer tipo de felicidade que está nas vitrines hoje em dia.
    Suas resenhas são sempre as melhores que leio, porque você não fala apenas do filme, mas traça todo um paralelo do seu ponto de vista. Post muito legal, como sempre.

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