Vampiros e Rússia

Domingo passado, realizei um de meus desejos infantes e finalmente fui ao Anime Friends. Logo no início do evento, encontrei exposto em determinado stande, um livro com uma capa lindamente ilustrada e um termo em russo no título. Como minha paixão pela Rússia é tão explícita que chega a ser escancarada – vide a Matrioska na cabeçalho do blog, que futuramente estará tatuada no meu braço esquerdo – podem deduzir que não seria natural de minha pessoa ignorar “A biblioteca do Czar”.

O primeiro volume da série Red Luna é ambientado na Rússia Czarista, abalada pelas invasões das tropas de Napoleão e ataques de criaturas vindas de um mundo místico e clandestino: os Varnis. Comumente chamados de vampiros, sua sobrevivência é totalmente dependente dos humanos, e especialmente, de suas guerras. Porém, possuem uma sociedade tão extensa e complexa quanto a nossa, sendo classificados por clãs - Varnis, Devas e Auras - e organizanda em reinos, vivendo paralelamente a realidade dos homens.

Nascida Raveni, a classe mais inferior dos Varnis, a princesa Alisa é menosprezada pela mãe, Rainha Ângela, que buscava uma sucessora para o trono Sorrow. Tal desprezo criou na jovem uma personalidade racional e perfeccionista, o que contribuiu para transforma-la em uma corajosa e exímia guerreira. Buscando alcançar a todo custo o reconhecimento da mãe, Alisa vive se metendo nos assuntos políticos e militares do mundo dos Varnis, mesmo contra vontade da monarca.

Ângela, pretendendo explorar os Territórios Proibidos – áreas que não foram povoadas por Varnis – envia uma tropa a procura de Libéria, a lendária biblioteca secreta, composta pelo que foi salvo da biblioteca de Constantinopla, e cujo caminho supunha-se ter sido enterrado com seu último herdeiro, o czar Ivan, O Terrível. Porém, a princesa Varni crê na existência de traidores entre o esquadrão da mãe, partindo em uma jornada secreta tanto para vigiar os enviados da rainha como para, por conta própria, encontrar o paradeiro da biblioteca, e provar seu valor para sua soberana.

Alisa invade a taverna Livro aberto, onde espera encontrar no escritório de Lasko, um linguista que dedicou toda sua existência a desvendar os mistérios do território europeu, mapas que possam orientar sua busca. Contudo, acaba sendo surpreendida por Miguel, jovem ao qual foi legada a responsabilidade de administrar a taverna, quando o tio resolveu retomar suas excursões exploratórias.

Para sua infelicidade, Alisa constata que a companhia do sobrinho do linguista será não só valiosa como necessária para decifrar informações contidas nos mapas deixados por ele. Miguel, por sua vez, descobre em uma noite a existência de seres dotados de poderes sobre-humanos, cujos interesses ameaçam a sobrevivência de seu tio, e que para salvá-lo, terá de ultrapassar as fronteiras de sua pacata Saint-Jean-Luz, e embarcar em uma aventura tão perigosa e incerta quanto as narradas por Lasko.

Com uma narrativa leve e gostosa, o escritor brasileiro Gabriel Monato constrói uma trama fantástica, pertencente ao gênero infanto-juvenil, mas que não deixa de mostrar um riquíssimo conteúdo histórico com a menção de fatos e termos da cultura e do vocabulário russo, assim como elementos do Catolicismo Ortodoxo, religião que se torna essencial no desenvolvimento da trama. O início e o meio dos capítulos do livro, são presenteados com incríveis ilustrações, estilo cartoon, do designer, também brasileiro, Marcos Inoue.

Embora o foco das editoras ainda sejam os best-stellers internacionais, a série Red Luna é um exemplo de que o Brasil não deixa nada a desejar a “gringa” com relação a criatividade e talento para literatura fantástica. O que falta mesmo é a valorização dos sonhadores tupiniquins.