
Olha, vou ser bem sincera. Não que isto seja difícil tratando-se de minha pessoa, é talvez, nos dias de hoje, um defeito. Sinceridade. Sinceridade é nos benditos anos 2000 pior do que hipocrisia, pior do apatia, pior do que melancolia, pior do que o tédio (será?), é muito ruim, é seriamente ruim ser sincero nos dias de hoje. Sempre foi, hoje, principalmente. Não vem ao caso, no entanto.
Eu tenho medo de envelhecer. Tenho medo de continuar sendo sincera e falar demais, tenho mais medo ainda de tentar sufocar isso com mentiras. Olha, já tentei, aquela filosofia de enjoy the day, carpe diem e "não tenha medo de nada" fuck off e seus derivados, mas, continuo temendo. Um milhão de coisas. E , com o passar do tempo essas um milhão de coisas multiplicam-se alucinadamente, e nunca foi tão necessário enfrentá-las. Todas elas.
Dizem que crianças são corajosas. Na verdade, elas não tem medo de nada, porque não conhecem os medos. Medos, na infância se resumem ao escuro. Mal sabemos que quando o "escuro" dá "as caras" é que a coisa fica séria. De verdade. Não posso bater no peito e dizer "SOU CORAJOSA", porque, na boa, não sou. Só teimosa o suficiente pra não assumir isso até pra mim, portanto, imito o reflexo do covarde. Tenho relativa coragem, enfrento, mais por orgulho do que por vontade. Minha vontade mesmo, era me esconder debaixo do cobertor. Debaixo de qualquer coisa que não me assombre.
Falando em medos, tenho medo de aniversários. Não diria exatamente medo, talvez, um grande desconforto. Viver é uma dádiva (talvez), sim realmente considero tal clichê, porém, o rótulo "hoje é seu dia" tem um peso enorme em cima do meu subconsciente aniversariante (até porque há um milhão de pessoas nascendo e envelhecendo no mesmo dia).
O que aprendi com isso tudo? Sempre vai faltar algo. As vezes é muita coisa, as vezes nem tanto. São poucas, as abençoadas e gloriosas pessoas que batem no peito e dizem "sou completo" por mais coisas que tenham ou por mais que lhe faltem. É uma dádiva, isto é realmente. Agora, junto com esse vazio há esperança, por mais desprezívelmente prosaico que pareça. A esperança te faz correr atrás, mesmo que você não saiba ao certo do que está correndo atrás. Como aquele chute que te empurra do cômodo e te faz encarar o desconhecido, escuro, com todos os medos e dificuldades, simplesmente pra achar algo diferente do que você vivencia agora. Nos anos 2000 corremos do tédio como da peste. E nunca foi tão necessário correr pra algo. E de algo.
Porque o mundo está mudando mais rápido do que as pessoas, e nós, que não crescemos tão adaptados quando a geração 2000 (se você nasceu de 94 à 99 sabe do que estou falando), nós, que crescemos com Dragon Ball Z, que ralamos o joelho e sentimos o metiolate que ardia, que coloríamos figuras de livros para colorir... E mais um milhão de citações. Corremos. Pra nos adaptar, pra alcançar algum maldito cargo, pra pegar o metro, atrás do nossos sonhos, atrás do que poderia vir a ser um sonho, atrás do prejuízo, desesperadamente para as colinas, sóbrios e bêbedos aos fins de semana, corremos de nossos medos e das consequências de nossos erros. Mesmo que parados, mesmo que andando lentamente, corremos. Uma mão imaginária nos impulsionando pra algum lugar mais adiante, um adiante que nunca chega, e quando chega, para. Sentamos, cansados de correr. Deixamos o resto da vida correr sem a gente, saudando os caminhos por onde corremos.
Acho que a vida é uma eterna ciranda. Ninguém vive igual a ninguém, mas todos realizamos a mesma trajetória de uma maneira particular , e, igual.
No entanto, isso é assunto demais pra um monólogo só. (E pra um único dia também).
Tchau.