quinta-feira, 29 de abril de 2010

A garota da capa vermelha

Em todas as suas 16 primaveras, ou pelo menos, em boa parte delas, Beto corria o mesmo trajeto para chegar à escola. Desde o maternal onde sua mãe o levava no colo, passando pelo início do ensino fundamental com sua primeira bicicleta vergonhosa azul escura, (vergonhosa, não pelo azul escuro, mas porque ainda possuía rodinhas) até o decorrer de sua vida escolar, quando passava pela praça deserta ouvindo musica, outrora folheando seus tão estimados quadrinhos.
Bancos de madeira rodeavam a fonte, por onde pequenas folhas caídas da copa das árvores flutuavam na água que refletia o fundo azul turquesa. Nada de incomum, nada lhe chamava a atenção.
Na verdade, Beto não era de se prender aos detalhes do cotidiano, como por exemplo, que a barra de sua calça jeans estava curta e puída e que colocará pés de meias diferentes. A vida passava tão depressa, para que se atar a insignificâncias, e esquecer-se de viver? Poucas coisas eram dignas da atenção de Beto, e ela, fora uma delas.
Sentada em um dos bancos, os pequenos pés não conseguiam alcançar o chão, por isso, ela os agitava, pra lá e pra cá, enquanto alimentava os pombos. Os cabelos castanhos, ondulados e extremamente compridos contrastavam com o que lhe chamava mais atenção, a capa vermelha.
E ele se lembraria dela, e lembraria para o resto da vida, pois sempre no primeiro dia de inverno ela estaria lá, alimentando os pombos. O inverno todo seria a mesma coisa, Beto passaria pela pequena praça abandonada, que não fazia diferença no meio da teia de arranha céus de uma megalópole, e a garota da capa vermelha estaria lá.
“Quem é você? De onde vem? Eu sou o Beto" tentara se aproximar tanta vezes, mas sempre desistira no meio do caminho, porque era covarde demais para perturbá-la, porque o tempo corria, e a aula não podia esperar a garota da capa vermelha, não havia tempo para Beto conhecê-la.
Então anos se passaram, e Beto mudou-se para outro tão distante lado da cidade. Infiltrou-se no interior de uma teia de arranha-céus e lá ficou se alimentando de lanches rápidos e milk-shake de morango. A garota da capa vermelha era apenas um fiapo de lembrança em seu subconsciente que talvez nunca fosse relembrado, se não fosse aquela tarde de junho, que subitamente começara a esfriar do nada. Beto voltava da casa de sua mãe com o tão famoso bolo de laranja com hortelã, e passara por aquela mesma praça, mesma fonte e mesmo banco.
Lá estava ela, tão risonha e enigmática como antes. A garota da Capa Vermelha. Sorriu e acenou e ela correspondeu ao sorriso, então, ele deu meia volta e partiu para sua teia de arranha-céus, para os motores rompantes e para os milk-shakes de morango. A partir daquele dia ele passaria todos os invernos, fazendo uma visita a sua tão preciosa amiga de infância.

7 comentários:

  1. Gostei.. muitooo
    Eu sou meio assim tbm..
    Um pouco desligado das coisas ao meu redor, mas quando algo me chama a atenção.. se torna inesquecivel...
    E quando são pessoas.. proucuro levar em meus pensamentos pra vida inteira..

    Bjãoo

    ResponderExcluir
  2. Aah, adorei seu comentário no meu blog. Sim, gosto de k-pop, web designer e mennntira que você é aquariana? :O É o signo que eu mais combino KKKKK sou de leão rs temos mt em comum +1
    Beeijos.
    http://ultravioletkiss.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  3. Caramba, maravilhoso texto! E viciante, diga-se de passagem, haha.

    ResponderExcluir
  4. aah, aachei que ele ia conversar com ela ><

    ResponderExcluir
  5. lindo blog...
    to seguindo aki
    se der passa no meu
    http://omeusingular.blogspot.com/
    beijo
    boa semana

    ResponderExcluir