terça-feira, 15 de março de 2011

Bofetada Inglesa


Confesso que sou em “termos” preconceituosa. Do tipo que saí de mansinho da escola, baixa “Prometida-Bro’z” e se embala loucamente nos vocais (des)afinadíssimos dos boys dancers brasileiros, pra depois negar tudo com MUITO vigor. Acho isso uma puta-falta-de-personalidade, mas fazer o que, apesar dos apesares eu sou humana. Meu preconceito não se resume apenas a música pop, mas outros gêneros/cantores/bandas, livros, tendências da moda e etc.

Meu preconceito literário é IMENSO. De dar nojo. Pra uma pessoa como eu admitir a genialidade de Paulo Coelho foi um martírio, e pasmem, até hoje torço o nariz pra quem é pseudo-cult e fala que é apaixonado por Clarice Lispector na minha frente. Isso me obrigou a engolir todas as críticas sem argumento que fiz na vida quando devorei vorazmente “Orgulho e Preconceito” da agora, ídola, genial e incrível Jane Austen. Preparem suas pedras, crioulos.

Depois de ouvir incansáveis elogios da minha querida Juliana, eu visitei a biblioteca municipal e milagrosamente achei um exemplar da “Folha” e levei pra casa (o que me poupou algumas notinhas, que serão muito bem distribuídas quando eu adquirir um exemplar meu). Devorei o livro em uma semana, e tive que admitir que vinha sendo extremamente fascista com o gênero “romance”.

Em uma mídia atual que sobrevive de histórias com promessas de “felizes para todo sempre até amanhã”, sexo, e vampiros purpurinados o livro pode não agradar muita gente metida a romântica. É comprido e minucioso, como toda boa história, e falta na descrição dos personagens. O que parece um ponto ruim visto por um lado, se visto por outro dá espaço a nossa imaginação para criamos “Lizzys” “Janes” e “Mr. Dacys” de um jeito único e particular. Isso, pra quem como eu, ainda não assistiu o filme.

A história se passa na Inglaterra do século XVIII com todo seu “glamour”, pompa, circunstância, elegância e etiqueta que se tornou referencia dos britânicos no mundo. O roteiro é longo, lento, com vocabulário que parece milimetricamente escolhido o que o torna às vezes cansativo e isso incluí o fato do romance central só começar mesmo depois da metade do livro. Jane se preocupa excessivamente em descrever o caráter psicológico de seus personagens, com todas as nuances de emoção, sutilezas e oscilações o que nos deixa quase impossibilitados de não se identificar com algumas de suas características. (Segundo a Ju, maior admiradora da autora que eu conheço, Austen se inspirou em suas poucas relações interpessoais para criar seus personagens.)

Um fato muito curioso nesse livro é como ele descreve vários protótipos da sociedade que permanecem até hoje (os sádicos, os arrogantes, intelectuais, os fúteis e por aí vai). Além desse ponto, vale prestar atenção em como as pessoas daquela época lidavam com sentimentos (amor, respeito, orgulho) e relacionamentos (amizade, casamento, namoro). Não há beijos, sensualidade exacerbada e sexo, que hoje em dia são vistos como essenciais quando se fala em “paixão”. Sentimentos como interesse afetivo/sexual e carinho, eram demonstrados com olhares, gestos e comportamentos dos mais sutis e se formos compará-los com os flertes de hoje, frios. As pessoas eram tão contidas e ao mesmo tempo muito vivas, não por suas ações, mas por seus sentimentos e pensamentos intensos e cheios de calor. Quesitos hoje em dia tão importantes como beleza, carisma e desenvoltura são relevantes se comparados com os dotes que eram prezados como estabilidade, inteligência, delicadeza, bravura, fibra e infelizmente, dinheiro.

Eu nunca vi a felicidade do casamento ser explorada de uma forma mais verdadeira e real. Engraçado que na contracapa do livro é citada a maior crítica que já foi feita a escritora “Jane Austen jamais poderia descrever paixões adequadamente, pois nunca as tinha conhecido”. Não discordo totalmente dessa crítica, apesar de levar em conta que o foco de “Orgulho e Preconceito” não é em si as paixões, mas valores muito mais nobres como devoção e amor.

Eu realmente adorei o livro, e indico a qualquer pessoa que tenha o mínimo de sensibilidade para apreciar sentimentos em sua forma mais inocente, crua e recatada junto com todo o folclore da Inglaterra medieval.


(Como disse, não assisti o filme. Mas seria um pecado deixar esse photoshoot lindo fora do post)

4 comentários:

  1. Tenho uma coleção de livros do Machado de Assis de 1978 que era do meu avô. Quando eu me mudei, deixei os livros na casa da minha avó e quando fui pegá-los de volta quase infartei quando vi que o 4º livro havia sumido. :/

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  2. Meu lindo e maravilhoso Orgulho e Preconceito.
    Sinto-me extremamente enciumada, mas com você eu divido tá? Ainda estou a procura da versão de 1965, em capa dura e folhas amarelas com aquele cheirinho de livro muito antigo que contém um texto muito mais parecido com o escrito pela Jane, sem cortes.

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  3. Orgulho e preconceito é DIVINÍSSIMO. em caps lock mesmo, que é pra dar ênfase. rs

    ai , dá vontade de ler e reler e viver todo o livro.

    beijos flor

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  4. Nunca li o livro, mas já assisti o filme e uma classe de onde estudo fez uma peça :)
    Achei bem interessante e chamou bastante a atenção.

    Ah quero fazer Arquitetura, e você? :D

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