Confesso que sou em “termos” preconceituosa. Do tipo que saí de mansinho da escola, baixa “Prometida-Bro’z” e se embala loucamente nos vocais (des)afinadíssimos dos boys dancers brasileiros, pra depois negar tudo com MUITO vigor. Acho isso uma puta-falta-de-personalidade, mas fazer o que, apesar dos apesares eu sou humana. Meu preconceito não se resume apenas a música pop, mas outros gêneros/cantores/bandas, livros, tendências da moda e etc.
Meu preconceito literário é IMENSO. De dar nojo. Pra uma pessoa como eu admitir a genialidade de Paulo Coelho foi um martírio, e pasmem, até hoje torço o nariz pra quem é pseudo-cult e fala que é apaixonado por Clarice Lispector na minha frente. Isso me obrigou a engolir todas as críticas sem argumento que fiz na vida quando devorei vorazmente “Orgulho e Preconceito” da agora, ídola, genial e incrível Jane Austen. Preparem suas pedras, crioulos.
Depois de ouvir incansáveis elogios da minha querida Juliana, eu visitei a biblioteca municipal e milagrosamente achei um exemplar da “Folha” e levei pra casa (o que me poupou algumas notinhas, que serão muito bem distribuídas quando eu adquirir um exemplar meu). Devorei o livro em uma semana, e tive que admitir que vinha sendo extremamente fascista com o gênero “romance”.
Em uma mídia atual que sobrevive de histórias com promessas de “felizes para todo sempre até amanhã”, sexo, e vampiros purpurinados o livro pode não agradar muita gente metida a romântica. É comprido e minucioso, como toda boa história, e falta na descrição dos personagens. O que parece um ponto ruim visto por um lado, se visto por outro dá espaço a nossa imaginação para criamos “Lizzys” “Janes” e “Mr. Dacys” de um jeito único e particular. Isso, pra quem como eu, ainda não assistiu o filme.
A história se passa na Inglaterra do século XVIII com todo seu “glamour”, pompa, circunstância, elegância e etiqueta que se tornou referencia dos britânicos no mundo. O roteiro é longo, lento, com vocabulário que parece milimetricamente escolhido o que o torna às vezes cansativo e isso incluí o fato do romance central só começar mesmo depois da metade do livro. Jane se preocupa excessivamente em descrever o caráter psicológico de seus personagens, com todas as nuances de emoção, sutilezas e oscilações o que nos deixa quase impossibilitados de não se identificar com algumas de suas características. (Segundo a Ju, maior admiradora da autora que eu conheço, Austen se inspirou em suas poucas relações interpessoais para criar seus personagens.)
Um fato muito curioso nesse livro é como ele descreve vários protótipos da sociedade que permanecem até hoje (os sádicos, os arrogantes, intelectuais, os fúteis e por aí vai). Além desse ponto, vale prestar atenção em como as pessoas daquela época lidavam com sentimentos (amor, respeito, orgulho) e relacionamentos (amizade, casamento, namoro). Não há beijos, sensualidade exacerbada e sexo, que hoje em dia são vistos como essenciais quando se fala em “paixão”. Sentimentos como interesse afetivo/sexual e carinho, eram demonstrados com olhares, gestos e comportamentos dos mais sutis e se formos compará-los com os flertes de hoje, frios. As pessoas eram tão contidas e ao mesmo tempo muito vivas, não por suas ações, mas por seus sentimentos e pensamentos intensos e cheios de calor. Quesitos hoje em dia tão importantes como beleza, carisma e desenvoltura são relevantes se comparados com os dotes que eram prezados como estabilidade, inteligência, delicadeza, bravura, fibra e infelizmente, dinheiro.
Eu nunca vi a felicidade do casamento ser explorada de uma forma mais verdadeira e real. Engraçado que na contracapa do livro é citada a maior crítica que já foi feita a escritora “Jane Austen jamais poderia descrever paixões adequadamente, pois nunca as tinha conhecido”. Não discordo totalmente dessa crítica, apesar de levar em conta que o foco de “Orgulho e Preconceito” não é em si as paixões, mas valores muito mais nobres como devoção e amor.
Eu realmente adorei o livro, e indico a qualquer pessoa que tenha o mínimo de sensibilidade para apreciar sentimentos em sua forma mais inocente, crua e recatada junto com todo o folclore da Inglaterra medieval.
Tenho uma coleção de livros do Machado de Assis de 1978 que era do meu avô. Quando eu me mudei, deixei os livros na casa da minha avó e quando fui pegá-los de volta quase infartei quando vi que o 4º livro havia sumido. :/
ResponderExcluirMeu lindo e maravilhoso Orgulho e Preconceito.
ResponderExcluirSinto-me extremamente enciumada, mas com você eu divido tá? Ainda estou a procura da versão de 1965, em capa dura e folhas amarelas com aquele cheirinho de livro muito antigo que contém um texto muito mais parecido com o escrito pela Jane, sem cortes.
Orgulho e preconceito é DIVINÍSSIMO. em caps lock mesmo, que é pra dar ênfase. rs
ResponderExcluirai , dá vontade de ler e reler e viver todo o livro.
beijos flor
Nunca li o livro, mas já assisti o filme e uma classe de onde estudo fez uma peça :)
ResponderExcluirAchei bem interessante e chamou bastante a atenção.
Ah quero fazer Arquitetura, e você? :D