sexta-feira, 4 de março de 2011

O Fabuloso Clichê de Margo Collins

Quando mais jovem, tinha eu belos olhos. Que o tempo e a amargura souberam levar o vigor que possuíam.

Tais olhos tinham o desenho tão singular, a expressão e altivez que podia se esperar de uma ires tão grande, perfeitamente redonda de um chocolate escuro. Sabia usufruir muito bem desse capricho natural, escondia o resto da beleza do rosto e deixava o reinar absoluto de meu olhar para a satisfação de seus admiradores.

Nunca fui par para qualquer dança, ou cavalheiro. Meu entusiasmo e ambição me levaram a cobiça do mais belo partido da região, que uma pequena fortuna, muita classe e amabilidade escondiam com destreza o caráter vil e machista de meu, até algum tempo marido. Desquitada pouco tempo depois, e deixada na rua da amargura.

Mas a sorte procura abençoar os mais apessoados. Não se faltava propostas sórdidas de emprego para jovens belas e sozinhas na década de 60, e como não fui boba nem nada as recebi com muito gratidão e me tornei uma das maiores acompanhantes da época. Ofereceram-me muitos martines, polcas e juras de amor. Os drinks e músicas aceitei de bom grato, assim como o excesso de zeros a direita que se criava em minha conta corrente, mas as juras de amor... Nunca chegaram a se cumprir.

Não se pode ter dinheiro e amor ao mesmo tempo, mas, garanto que muitas facilidades que são concebidas com grana podem atenuar um coração carente. Logo, Margo Collins era um nome conhecido em toda Chicago. Namorei políticos, artistas, jornalistas e advogados todos podres de ricos, muito bem casados e de-tes-tá-veis. Creio que me tornei até amiga de algumas de suas mulheres, que por ventura conhecia graças relações sociais que criei, e algumas, desconheciam essa dupla personalidade suja.

“Margo Collins é prostituta?” “Creio que não minha querida, você sabe como é... Essas más línguas invejosas adoram destruir a imagem de quem tem beleza e sucesso e ela é tão espirituosa... Me admira muito uma mulher de tanto praxe não se casar novamente. Porque sabes, ela é desquitada!” “Você jura Dolores? Nunca poderia eu, em minha vil consciência imaginar esse fato! E é tão bonita Margo...”

Infelizmente minha fama para com a ala masculina era muito menos encoberta. Onde iria arrumar emprego, sendo que a publicidade naqueles tempos se fazia de boca em boca? Era preciso me expor, para sustentar meu alto custo de vida, e se isso implicava a nunca ser levada a sério por nenhum homem, que assim fosse.

Meu fim foi o mais abruto e precoce que poderia se previr. Agradeço por isso, já que o envelhecer é cruel para uma mulher que é sustentada pela beleza. No dia 24 de dezembro de 1964 fui brutalmente atropelada, causando espanto a todos que atravessavam a avenida na madrugada de Chicago. Muitos, horrorizados pela insensibilidade do motorista que não prestou socorro e pelo estado catastrófico que se encontrou meu rosto depois da batida. Morri aos 27 anos, no auge da beleza e do sucesso. Sinto não poder que dizer que fui um belo cadáver.


Não há nada mais clichê do que ilustrar esse conto com a graça de Mrs Hayworth

2 comentários:

  1. Linda ^^
    Nem todas as mulheres são sagazes como ela,poucas são espertas o duro entre tudo é se apaixonar por tantas promessas !

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  2. eu me sinto 'tão em casa' quando venho aqui :3

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