sexta-feira, 6 de maio de 2011

Lual



Diziam os pais mais conservadores, que não era muito seguro andar por aquelas bandas de Cambuí àquelas horas. Para aquele grupo de amigos, porém, havia muitas desculpas a dar.

O vento frio de final de outono justificava o fato de andarem juntos, divididos em pequenos grupos, com braços enlaçados a procura de calor amigo. Compartilhavam cobertores com cheiro de mofo, conversas despreocupadas e um medo de um amanhã que viria ao passar de seis meses.

À Independência! Brindavam com canecas de louça.

Geada noturna contribuía para intensificar a cólica, fruto de crises de riso que explodiam aqui, e ali, acordando moradores de um dos bairros mais pomposos da cidade. O deboche era pela corja de caras feias, resmungos de desaprovação e julgamentos alheios que recebiam ao passar pelas avenidas recheadas pela “sociedade” daquela cidade do interior.

Bobagem. Em uma idade em que o futuro é o grande vilão, um bando de burguesinhos não incomoda muita gente, e, além disso, eles se divertiam muito mais do que eles. As bochechas coradas, as canecas cheias de chocolate quente com conhaque e os risos que demoravam pra conter, falavam por si só.

Subir a ribanceira de terra batida úmida era um desafio de fácil proeza para quem estava de mãos dadas com um grande amigo, e se faltava nele segurança, sobrava diversão.

Entraram pela mata escura, iluminados pelo brilho das estrelas e guiados pela intuição, de quem reconhece um lugar especial para todos, mesmo aqueles que lá pouco foram.

O capim molhado pela geada e as toras de madeira seca incendiaram-se, exteriorizando o calor daquela amizade que alcançava a lua, em forma de fogueira crepitante. O aroma de inocência, medo e juventude confundia-se com os de mashmallows derretidos na fogueira.

Foram alguns minutos de silencio, os rostos felizes e joviais iluminados pelas chamas, os corações apertados enchendo-se de juras, juras que a vida insiste em dificultar.

Porém promessas de amizade sempre vingam. Viram lágrimas em casamento, padrinhos e madrinhas, histórias para contar para os netos e outros amigos que são encontrados pelo caminho da vida. Quando menos, promessas se eternizam: Em álbuns de fotografia, na sala de porta retratos, no meio das agendas e dentro dos bolsos de carteira.

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Pauta para o projeto Bloínques, sobre um tema que me tocou muito. Eu considero esse, um dos melhores contos que fiz em 2011. Dedico a todo o meu grupo de amigos do terceirão, em especial a Mirella, Isa, Cau, Diego, Ju e etc, que fazem minhas manhãs felizes!

2 comentários:

  1. Nada do que "fugir" com os amigos e se reunir num lugar distante para aproveitar ao máximo. Amizade é um tema lindo e gostoso de se ler. Achei fofo demais esse texto. Parabéns pela pauta, ficou realmente boa *-*

    Beijinhos, se cuida s2

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  2. Onw Bia, muito bom o texto. Me fez perceber o valor de uma simples caminhada pelo escuro. Amo todos vocês também. s2

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