sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Rosas de Papel


Aquele tipo de cidade explodindo para o "desenvolvimento". Nem grande, nem pequena. Nem fria, nem quente. Havia uma senhorinha, os cabelos tão cinzas quanto a parte mais industrial daquele lugar emergente. Natural dos tempos atuais, ela vivia sozinha, cozinhava pra si mesma, arrumava a própria casa, dando risada das próprias piadas.

No finalzinho da tarde, era possível vê-lha. Debruçada sobre a sacada, o pôr-do-sol tingindo de dourado seus cabelos grisalhos. Diferente de toda vizinhança, falava bom-dia. A todos e qualquer um, principalmente aqueles que todos tratavam como qualquer um. Bom dia ao gari, ao jardineiro da vizinha, à moça que vendia rosas de papel, ao açougueiro, procedido de um obrigado. Com atitude tão singular, era impossível que sua morte passasse despercebida.

Donas de casa, que espiam por cortinas entreabertas, notaram sua ausência em uma quinta feira. Bisbilhotando pelas janelas da frente, viram-na deitada, imóvel, dormindo o sono eterno sob uma cadeira de balanço. Surpreenderam-se, os moradores daquela vila, com a quantidade de parentes chegando para velar o corpo. E ainda mais com sua frieza diante da morte daquela senhorinha. Pagara, antes, todas as despesas do funeral. Sozinha, como costume.

E ao descer do caixão, foram chegando aos poucos, os garis, o açougueiro, o jardineiro, e a moça que vendia flores de papel. Tímidos, a tristeza era visível em suas expressões, embora ignorados pelos presentes. Parando diante da cova, lágrimas contidas pelas pestanas compridas, a moça das rosas de papel trazia em seus braços a cesta onde levava seu artesanato. Dentro desta, uma quantidade absurda de lindas rosas brancas, réplicas tão perfeitas, que os desconhecidos de sua habilidade julgaram serem flores de verdade.

Girou a cesta, deixando cair sobre o mogno do repouso de sua solitária amiga, uma chuva de rosas de papel. Brancas, cintilando sobre o sol do meio dia, como as lágrimas daqueles que todos "travavam como qualquer um".

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Lembram do meme "1o futilidades aleatórias, porém indispensáveis" ? Como boa procrastinada que sou, deixei pra procurar as fotografias que estampam o ranking de ultima hora, portanto, vocês verão a continuação no próximo post, nesse mesmo blog mas com horário indeterminado. Haha!

7 comentários:

  1. Gostei, mesmo. Sensibilidade está em falta hoje em dia, ver que em uma estória curta e simples ela pode ser tão valorizada, ainda mais por uma jovem e hoje em dia, é realmente bem estimulante em relação a esse futuro canibal que sempre se anuncia através da truculência e na falta de humanismo no mundo. Parabéns =]

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  2. Olá, tudo bom?

    Faz muito tempo desde que eu visitei o teu blog pela última vez, é bom saber que continua escrevendo. O maior desafio de um blog é a inconstância, a maioria do pessoal abandona o blog no meio do caminho. Aí é sempre bom ver alguém que posta sempre, como você.

    Parabéns pelo post, é muito simples e belo, gostoso de ler por ser bem imagético, realmente é um momento de fantasia no meu dia.

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    Almeida José

    www.diarioaustral.wordpress.com

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  3. Imaginei toda a cena... O mundo precisa de mais senhoras como essa, que tratam pessoas como iguais.
    Obrigada por todos os elogios... Flamenco é minha paixão! Espero que você consiga passar no vestibular e etc...
    Tô esperando o resto da listinha hihi :3
    Beeijos

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  4. Que singelo ficou seu texto. Não sei se estou viajando, mas uma das muitas mensagens dele pode ser que: Existem pessoas maravilhosas (como a senhorinha), que não tem sua importância reconhecida pelas pessoas por perto (o tratamento frio da família), mas sim por pessoas relativamente estranhas, como a menina das rosas de papel. Viajei?

    Bom, o blog tá lindo! Ficou mais vintage do que de costume! Gostei da imagem mexendo ali em cima. Obrigada por me indicar ao meme, que fofa! Vou pensar no que escrever para fazer um especial. Obrigada por lembrar de mim! Um beijo

    http://biacentrismo.blogspot.com

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  5. Lágrimas nos olhos lendo seu texto.
    LINDO.

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  6. A velhinha morreu '-'
    Que triste

    Suzi
    http://emyhouseplus.wordpress.com/

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