sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Epifania de Vampiro

Você gosta do sol. Gosta de encostar-se à janela para apreciar o máximo do poente, e isso te machuca, por mais que goste. Machuca-te não pela ardência que percorre tua pele quando atingida pela luminosidade alaranjada, mas pela limitação à intensidade dela, que te impede de arrebentar os vidros e se entregar livremente aos raios de sol. E por vezes, me pergunto por mais quanto tempo conseguirá conter-se antes de cometer uma façanha do tipo.

E então você me odeia. Porque de tudo isso sei, sem que uma só palavra a respeito tenha saído de teus lábios. Me odeia, já que entre nós nunca haverá segredos, queiras ou não. Odeia a camiseta surrada que uso no momento, a mesma com que saí de casa no dia 11/06/1992 para nunca mais voltar. Pra inusitadamente me imortalizar, e pouco tempo depois, torná-la imortal.

Eu tinha sede, e você, era a oportunidade de saciá-la. Mas com todo respeito e sinceridade permitidos pela nossa eternidade, és parcialmente responsável por isso. Estava no que poderíamos definir como lugar errado, na hora errada, o que se pode considerar um grande erro de sua parte. Poderia ter tentado pelo menos fugir!

Mas não vou fabricar uma razão a partir de uma hipocrisia, afinal, por mais bem formuladas que sejam, minhas mentiras não funcionam contigo. Tem teus privilégios sobre meu ser. Privilégios, que podem ser vistos como uma compensação por eu ter me aproveitado de sua momentânea fragilidade sentimental, por não ter buscado uma presa menos fácil.

Quando te vi sentada naquele banco, iluminada por um único poste naquela madrugada deserta, levantando para mim os olhos úmidos de choro, sujos de maquiagem, deslumbrados com a figura de um jovem rapaz tão encantadoramente taciturno quanto o que você se tornaria... Ah, eu não resisti! Você era tão linda!

E sabia que ficaria ainda mais linda quando vestida de nossa maldição, arrebentando jugulares, coberta de sangue, saqueando na calada da noite roupas finas, joias, e até bombons, os quais você se sujeita a cheirar alucinadamente, tentando atenuar o vazio de nossa existência. Vazio que fatalmente te afeta mais do que a mim.

E então, você me odeia.

4 comentários:

  1. Adorei, adorei, adorei. Você escreve romances/contos ou só textos curtos?

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  2. "Eu tinha sede, e você, era a oportunidade de saciá-la. "
    Mas gente!rs

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  3. Eu amo vampiros, Beatriz, e gostei muito do texto, você deveria fazer uma continuação rs

    http://maresdetristeza.blogspot.com.br/

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  4. otimo texto
    parabens colegaa
    http://www.quecookievocequer.com/2012/09/cade-vaca.html

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