terça-feira, 30 de abril de 2013

Totó, we're not in Kansas anymore - Parte II

Quem também cresceu no interior, sabe que a ideia de “cidade grande” - especificamente, São Paulo - quando não idealizada, é o extremo oposto. Minha família, dada a programas sensacionalistas e tendo a palavra de Sr. Datena como verdade absoluta, pertence, obviamente, ao segundo caso.

Convenci meus pais - e avós - com muito amor, birra e a muito custo, a me deixarem partir. Para sair definitivamente de casa “foi um parto”, possuindo a expressão duplo sentido metafórico, afinal, foi como nascer novamente.

Possivelmente, daqui a uns dois anos, perceberei o quanto fiz toda essa narrativa parecer um remake de novela mexicana do SBT. Contudo, não nego que por os pés em um lugar desconhecido, grande, absurdamente movimentado, assim como entrar na faculdade, provocaram um frio na barriga semelhante ao do meu primeiro dia no jardim de infância.

Só que não sou mais uma criança gordinha de cabelo crespo, com licença para berrar, esconder debaixo da mesinha e pedir para minha mãe não ir embora. Nessa decisão estava embutido um possível futuro promissor como publicitária, e um futuro é coisa grande e pesada demais para levar para debaixo da mesinha.

O começo foi até fácil, quando tudo era novo, reluzente e colorido, feito a noite da Avenida Paulista nos fins de semana. Até as situações mais bizarras do cotidiano de bixete pareciam ter seu lado cômico, alegre, por mais escondido que estivesse, o positivismo tava lá, marcando presença. Novidades conseguem definitivamente distorcer nossa concepção da realidade, né? Mas a empolgação passou, o positivismo foi atenuado pelo cotidiano, as provas chegaram, a primeira demissão também, a solidão, a melancolia, a cenoura queimada insistentemente grudada no fundo da panela... Perdi meu ônibus!

Uma vez por mês experimento uma vontade desgraçada de jogar tudo pro alto: jeans, meias, calcinhas, socar tudo novamente na minha mala - verde berrante e grande demais - e voltar para Minas, para minha cidade de 20.000 habitantes, onde a caipirinha - boa caipirinha - é R$ 7,00 e dá para passar uma semana com R$ 40,00 no bolso, de boa.

Porém, aquela mesma sensaçãozinha chata, responsável por me chutar de Cambuí, ainda bota fé nesse corriqueiro e insano dia a dia paulistano. Posso ter me acostumado ao cinza da Paulista, com grafites aqui e acolá, a esporádica sinuca na Augusta, as amêndoas coloridas e viciantes do mercadão, a companhia dos pirados de PP da 523, a encontrar três sotaques diferentes em uma só baldeação.

Talvez eu seja mais cosmopolita do que imaginava, ou ainda duvide de que não existe amor em SP. Talvez não seja cedo demais para dizer que São Paulo já faz parte de mim.

Ou vai ver é porque aprendi a cozinhar cenouras.

6 comentários:

  1. "... onde a caipirinha - boa caipirinha - é R$ 7,00 e dá para passar uma semana com R$ 40,00 no bolso, de boa."

    Sei tão bem o que é isso!

    No mais, não consigo estar nem só lá, nem só cá, tanto que saí de Poços de Caldas mas não fui pr'uma São Paulo, fiquei em Floripa mesmo, que é mais longe mas é maior e menor, "respectivamente". E olha, também foi uma novela mexicana... Que novela! rs

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  2. No final das contas são as escolhas que determinam tudo e é impossível não fazê-las uma hora ou outra.

    Thoughts-little-princess.blogspot.com

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  3. Sou uma pessoa do interior que também sonha em ir morar em uma cidade grande, mas sei que quando eu estiver lá vou sentir saudades do interior. Como lidar?

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  4. Bem vinda a Sao Paulo. Amo essa terra.
    Mas sei como se sente, é gente demais, é terra demais, crueldade demais, coisas demais. É dificil lidar com essa situação de ter sido uma em 20000 e passar a ser uma 11 milhões. Complicado.
    Te desejo sorte.

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  5. Quando eu era mais novinha, sonhava com São Paulo... mas sabe? Passou! Incrível como meus planos mudaram completamente...

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  6. Rio de Janeiro não é como São Paulo, mas te digo que morar na zona oeste, a maior parte da cidade, é estar no meio de um misto cultural muito bizarro. É como se tivesse Cambuí e São Paulo só atravessando bairros: num lugar a caipirinha é 7, no outro é 42. Só dar alguns passos pra mudar os preços. E nem só isso: todo o clima é diferente, sabe? O agitado, o tranquilo, o seguro, o perigoso, tudo tem seu lugar. Territórios e vontade de fugir numa kombi pro litoral. E achei tão Sex and the City:

    "Talvez eu seja mais cosmopolita do que imaginava, ou ainda duvide de que não existe amor em SP. Talvez não seja cedo demais para dizer que São Paulo já faz parte de mim."

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