quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Maçãs, anões e...Touros!?

ATENÇÃO: Essa resenha contém spoilers!

Tenho quase 20 anos e ainda não superei Cinderella, sabe? Consigo sentir a mesma comoção que sentia aos 6 quando vejo Pinóquio virar gente, ou a Princesa Aurora entrar em seu profundo sono de morte após espetar o indicador em uma roca de fiar. 

Cresci estragada pelas dóceis palavras dos Grimm e por um universo, utópico, fantasticamente feliz, oriundo da mente maligna de um gênio chamado Walt Disney, que por sinal, se tornou uma de minhas principais referências visuais. Contudo, com relação ao conteúdo, tenho predileção pela versão macabra, supostamente primitiva, dos contos de fadas, que ao unir o sublime com o grotesco, é a personificação de meu período favorito da história da arte: O Romantismo.

A rotina trabalho + república + São Paulo faz da noite o único momento em que posso me dedicar ao entretenimento inútil ou ao… Sono. E não me arrependo de ter perdido boas horas de sono para assistir a adaptação espanhola da estória de uma princesa branca como a neve, envenenada com uma maçã por sua vaidosa madrasta má.


Em Blancanieves (2013), o roteiro original é distorcido, embora preserve os ícones principais: a maçã e os anões. A donzela sofredora é Carmencita, filha do famoso toureiro Antonio Villalta, o qual a ignora desde o nascimento, pois este o remete tanto a morte da esposa quanto ao acidente que sentenciou sua carreira. 

Carmencita cresce com uma presença paterna superficial, manifestada por presentes enviados em datas comemorativas, compensada pela criação amorosa da dedicada avó materna. E é uma vitrola, prenda enviada pelo pai parabenizando Carmem por sua 1ª comunhão, o que motiva uma das cenas mais tristes e belas do filme: em uma intensa representação da dança flamenca, feita por avó e neta ao som do aparelho, a primeira acaba infartando, mudando totalmente o destino da segunda.


A criança é enviada para mansão de Antonio, descobrindo que o afastamento de ambos é resultado da influência e da maldade de Encarnada, sua madrasta. Terminantemente proibida de de visitar o 1º andar, onde o ex-toureiro, paraplégico, se encontra confinado, Carmem também é encarregada das mais pesadas tarefas domésticas da casa. Contudo, o encontro de pai e filha torna-se inevitável, e Antonio, ao enxergar na menina um grande interesse por touradas, começa a transmitir seus conhecimentos, o que os aproxima, durante o breve período que antecede sua morte.

Após a acidental morte do marido, Encarnada incube a um subordinado a tarefa de livrar-se da enteada, a qual durante a fuga, sofre um acidente que lhe tira a consciência, fazendo o serviçal crer que tivera sucesso na missão. Porém, a jovem é resgatada por uma trupe de anões toureiros, que percebem sua incrível aptidão para o "esporte", quando Carmem realiza uma façanha para salvar um de seus novos amigos. Ao lado de seus protetores, a jovem se torna uma grande estrela das arenas, apelidada de "Branca de Neve", aguçando a inveja de sua madrasta.


BlancaNieves segue uma proposta “alternativa” (porém muito in no cinema independente atual) ao retomar a estrutura de filme mudo, com imagem P&B e diálogos transmitido por letreiros explicativos. Se você é apreciador de um bom diálogo, esperando monotonia de um filme sem este, vai se surpreender com uma trilha sonora encantadora, capaz enfeitiçar por meio violões e castanholas, enfatizando a emoção de cada gancho* do drama. 

Visualmente, BlancaNieves é impecável, apresentando figurinos deslumbrantes e um jogo de sombra e luz, em conjunto com planos e ângulos de filmagem estratégicos, que são responsáveis por dramatizar ainda mais a típica atuação do cinema mudo: caricata, exageradamente expressiva e linda. A mistura inusitada de ícones do conto com elementos do folclore espanhol é um diferencial, que aumenta ainda mais a atmosfera mística e encantada do filme.

Espelho, espelho meu, há madrasta mais chiquérrica e malvada do que eu? Fonte:

Mesmo tendo antecipado a maior parte do longa, vou poupar o final. Terminar essa resenha sem instigá-los a apreciar um obra tão encantadora seria o mesmo que excluir o "felizes para sempre" de uma fábula.

-
* Gancho? : Gancho é o "climax" do climax, é o pico de um conflito, momento decisivo, de suspense, geralmente acompanhado de uma mudança, ou surgimento, de um fundo musical. É quando você sente o frio na barriga, sabe?

8 comentários:

  1. Mesmo tendo contado boa parte da história ainda estou curiosa a respeito desse filme, pois ler um resumo da história não é a mesma coisa que assisti-la com os próprios olhos.

    Thoughts-little-princess.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. genteeeee, preciso ver esse filme!! ADOREI *-* onde foi que vc assistiu/baixou/alugou ? kkkkkkk

    beijos
    http://gipsyyy.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  3. Eu nunca fui muito chegada nos filmes de princesas da Disney. Tirando a Bella e a Fera, sempre fui mais chegada na Pixar, animais e guerreiras chinesas. Mas há um tempo comecei uma aula sobre Contos de Fadas e, por isso, li alguns dos irmãos Grimm. É bem impressionante como eram mais fortes, mesmo que os deles já fossem mais suavizados. Bem diferente do que a gente vê na versão da Disney, né
    Fiquei bastante interessada no filme, vou procurar. Parece ser lindíssimo.
    Beijo!

    ResponderExcluir
  4. Muito bom! Fiquei muito interessada no filme, já que a última adaptação hollywoodiana de branca de neve não prestou mt. Como sempre, destaque para a sua escrita especial. saudades de vir aqui.

    obs: "...período favorito da história da arte: O Romantismo" - meu tb. Com certeza.

    ResponderExcluir
  5. Cara, já estou procurando pra baixar hahaha. Como a Mari disse, a última adaptação achei ridiculamente fora do contexto real do filme, achei esse meio obscuro, quero ver hahaha.
    Adoro seus posts <3
    http://www.canseidesernerd.com

    ResponderExcluir
  6. Nossa!!! Adorei, fiquei muito curiosa e doida para ver o filme. Procurar para baixar já...

    Beijos!

    ResponderExcluir
  7. Primeira vez ouvindo falar [claro]. Mas me instigou essa história, porque a inveja da madrasta não é pela beleza é pela fama da enteada. Interessante! E só pra constar: também cresci vendo os filmes da Disney (sem arrependimentos!). <3

    ResponderExcluir
  8. Sabe uma coisa estranha? as historias dos irmãos Grimm são cheia de porcaria. Sério. A branca de neve não comeu uma maçã envenenada, ela engasgou. E ela prestava favores sexuais aos anões.Eles só deixaram ela ficar em casa por isso. Leia qualquer dia sobre as historias. Cê vai ficar pasma.
    Por exemplo, o pinóquio. Na verdade aquela historia foi uma critica a arte. Porque quando ele trabalha no circo ele fica burro e sozinho? porque pinóquio tinha que trabalhar e ir a escola? engraçado.
    De qualquer forma, adorei a resenha e mesmo tendo levado spoiler, assistiria.

    ResponderExcluir