quinta-feira, 12 de junho de 2014

Batalhas & Bordados


A Revolução Farroupilha, chefiada pelo coronel Bento Gonçalves da Silva, levou para o campo de batalha todos os gaúchos insatisfeitos com a política do charque, incluindo seus filhos e sobrinhos com idade para lutar. Neste mesmo ano, as mulheres da família do general, abondaram uma vida de gentilezas, chás domingueiros, vestidos cintilantes e bailes, para entrar para história. Pelas linhas escritas por Letícia … pude conhecer minuciosamente as expectativas e temores de D. Rosa, Caetana, Maria Manuela, Perpétua, Rosário, Mariana e Manuela, como se as portas da Estância do Brejo, redoma na qual ficaram protegidas da revolução, fossem abertas para mim.

“A casa das Sete Mulheres” é uma obra sobre uma guerra, mas também sobre batalhas. Uma batalha entre imperiais e revolucionários, com suas espadas reluzentes banhadas pelo luar de noites de minuano ou suas cabeças de ideologias tão opostas, queimadas pelo sol radiante que cobre as coxilhas do pampa no verão. Há também a silenciosa batalha interna de mulheres condenadas à impotência, a longos dias de espera, utilizando a fé como arma e fazendo de escudo um incrível auto-controle, distraindo o desespero ao cobrir uma seda de bordados, dedilhando uma melodia no piano ou encontrando o ponto certo do doce.

Entre as paredes daquela casa baixa, de janelas azuis, as muito diversas personalidades de cada personagem foram sendo reveladas pouco a pouco, como pedras preciosas que apresentam diferentes nuances quando expostas a luz. E narrativa de … é definitivamente iluminada, capaz de nos transportar para paisagens surreais do Rio Grande do Sul e relatar os sanguinários confrontos entre farroupilhas e imperiais com uma realidade incrível.

“Parece impressionante, mas eu nunca antes tinha pensado na guerra como uma coisa palpável, como uma coisa real. Era como se vivêssemos numa redoma, apartadas do mundo, e nada mais. Nem quando vi meu tio morrer em sua cama, tomado pela gangrena, nem quando me avisaram da emboscada que levou a vida do meu pai, eu jamais pensei na guerra como uma coisa de sangue e de músculos, como um bicho cruel e faminto.”

Contudo, é inegável o destaque ao aspecto psicológico de cada indivíduo que compõe a trama, que tem os sentimentos transcritos tão minuciosamente a ponto de me fazer experimentar cada uma das sensações que assolaram não só a alma das sete mulheres como de seus homens que partiram para a guerra. Não sei se consigo nomear favoritos, mas criei uma admiração especial pela força combinada com doçura e inteligência de D. Rosa e pela alegria e espontaneidade de Bento Filho (que infelizmente, tem aparições esporádicas na história).

“Sim, D. Ana e D. Antônia, sempre elas a zelarem pela casa e por nós, incansáveis e decididas, tanto que nem Caetana nunca ousou contrariá-las, estando sempre obediente às suas ordens e sugestões, D. Ana e D. Antônia nos tinham proibido de chorar, nem por amor, nem por medo. E com tal faina, e com tal zelo, que quando Mariana deixou escapar um pouco do seu pranto, foi mandada à cozinha preparar um bolo para o chá que tomamos na sala fechada, em silêncio, como numa missa onde se cultua a angústia. E a todas nós foi dada uma tarefa a ser cumprida, para que não desandássemos pelos despenhadeiros do pavor que nos consumia.”

Embora possua um quê onírico, semelhante aos contos de fadas medievais, “A casa das Sete Mulheres” não é protagonizada por donzelas indefesas, muito pelo contrário. É um dos melhores relatos sobre o corajoso papel de uma mulher durante o período de uma guerra, o qual não incluí empunhar espadas ou conquistar territórios, mas receber feridos, domesticar sentimentos e manter o controle não só do lar e de seu patrimônio, como também da própria alma.


4 comentários:

  1. Eu era criança quando passou a minissérie na Globo. Uma imagem que nunca esqueço é que minha mãe chorava assistindo, apesar dela não ter a menor ligação com essa história, nem mesmo nessa região do Brasil ela chegara perto, um dia.
    Desde então, quero muito ler o livro.
    Abraços.

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  2. Eu fui apaixonada por essa misserie ficava acordada até tarde só pra assistir ^^

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  3. faz tanto tempo que assisti a mini série que só tenho alguns fatos guardados. você leu a obra original? lembrei que tenho que colocar na minha lista no skoob. gosto das suas recomendações. ok que não são recomendações, mas eu levo como se fossem. e vendo você falar tão bem da casa das sete mulheres, como não ler?

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  4. Nossa, eu era bem pequena quando passou essa mini série, e gostava rs

    meu blog ♥

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